Catequese com Papa Francisco - 24/04/2013
Na íntegra
Quarta-feira, 24 de Abril de 2013, 11h58
CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 24 de abril de 2013
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Credo, nós professamos que Jesus “de novo virá na glória
para julgar os vivos e os mortos”. A história humana começou com a criação do
homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e se conclui com o juízo final
de Cristo. Muitas vezes, esquecemo-nos destes dois pólos da história,
sobretudo, da fé no retorno de Cristo e no juízo final, os quais, às vezes, não
são assim tão claros e fortes no coração dos cristãos.
Jesus, durante a vida pública, concentrou-se sempre na
realidade da sua última vinda. Hoje, gostaria de refletir sobre três textos
evangélicos que nos ajudam a entrar neste mistério: aquele das dez virgens, dos
talentos e aquele sobre o juízo final. Todos os três fazem parte do discurso de
Jesus sobre o fim dos tempos no Evangelho de São Mateus.
Antes de tudo, recordamos que, com a Ascensão, o Filho de
Deus levou para junto do Pai a nossa humanidade por Ele assumida e quer atrair
todos a si, chamar todo mundo a ser acolhido entre os braços abertos de Deus, a
fim de que, ao final da história, toda a realidade seja entregue ao Pai. Há ,
porém, este “tempo imediato” entre a primeira vinda de Cristo e a última, que é
propriamente o tempo que estamos vivendo. Neste contexto do “tempo imediato”,
coloca-se a parábola das dez virgens (cfr Mt 25,1-13). Trata-se das dez moças
que esperavam a chegada do Esposo, mas estes demoram e elas adormecem. Ao
anúncio repentino de que o Esposo está chegando, todas se preparam para
acolhê-lo, mas, enquanto cinco dessas, prudentes, levaram o óleo para alimentar
as próprias lâmpadas, as outras, tolas, permanecem com as luzes apagadas, porque
não o têm; e, enquanto o procuram, chega o Esposo e as virgens tolas encontram
fechada a porta que introduz à festa de casamento. Batem insistentemente, mas
agora é tarde demais, o Esposo responde: não vos conheço. O Esposo é o Senhor e
o tempo de espera pela sua chegada é o tempo que Ele nos dá, a todos nós, com
misericórdia e paciência, antes de sua vinda final; é um tempo de vigilância;
tempo no qual devemos ter acesas as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade,
no qual é preciso ter aberto o coração ao bem, à beleza e à verdade; tempo de
viver segundo Deus, porque não conhecemos nem o dia, nem a hora do retorno de
Cristo. Aquilo que nos foi pedido é para estarmos preparados para o encontro –
preparados para um encontro, para um belo encontro com Jesus – , que significa
saber ver os sinais da sua presença, ter viva a nossa fé com a oração, com os
sacramentos, ser vigilantes para não adormecer, para não nos esquecermos de
Deus. A vida de cristãos adormecidos é uma vida triste, não é uma vida feliz. O
cristão deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não nos adormeçamos!
A segunda parábola, aquela dos talentos, faz-nos refletir
sobre a relação entre como usamos os dons recebidos de Deus e o Seu retorno, no
qual nos perguntará como os utilizamos (cfr Mt 25,14-30). Conhecemos bem a
parábola: antes da partida, o patrão dá a cada servo alguns talentos, a fim de
que sejam utilizados bem durante a sua ausência. Ao primeiro doa cinco, ao
segundo dois e ao terceiro um. No primeiro dia de ausência, os dois primeiros servos
multiplicam os seus talentos – estes são moedas antigas – , enquanto o terceiro
prefere enterrar o próprio e conservá-lo intacto para o patrão. Com o seu
retorno, o patrão julga os seus operários: elogia os dois primeiros, enquanto o
terceiro é lançado às trevas exteriores, porque escondeu por medo o talento,
fechando-se em si mesmo. Um cristão que se fecha em si mesmo, que esconde tudo
aquilo que o Senhor lhe deu não é cristão! É um cristão que não agradece a Deus
por tudo aquilo que lhe deu! Isto nos faz dizer que a espera pelo retorno do
Senhor é o tempo de ação – nós estamos no tempo de ação – , o tempo no qual
colher os frutos dos dons de Deus não para nós mesmos, mas para Ele, para a
Igreja, para os outros, o tempo no qual procurar sempre fazer crescer o bem no
mundo. E em particular, neste tempo de crises, hoje, é importante não se fechar
em si mesmo, enterrando o próprio talento, as próprias riquezas espirituais,
intelectuais, materiais, tudo aquilo que o Senhor nos deu, mas abrir-se, ser
solidários, ser atentos ao outro. Na Praça, vi que há muitos jovens: é verdade
isto? Há muitos jovens? Onde estão? A vocês, que estão no início do caminho da
vida, pergunto: já pensaram nos talentos que Deus deu a vocês? Já pensaram em
como podem colocá-los a serviços dos outros? Não enterrem os talentos! Apostem
em grandes ideais, aqueles que alargam o coração, aqueles ideais de serviço que
tornam fecundos os vossos talentos. A vida não é dada para que a conservemos
para nós mesmos, mas para que a doemos. Queridos jovens, tenham uma grande
alma! Não tenham medo de sonhar com coisas grandes!
Enfim, uma parábola sobre o trecho do juízo final, no qual
vem descrita a segunda vinda do Senhor, quando Ele julgará todos os seres
humanos vivos e mortos (cfr Mt 25,31-46). A imagem utilizada pelo evangelista é
aquela do pastor que separa as ovelhas dos cabritos. À direita estão colocados
aqueles que agiram segundo a vontade de Deus, socorrendo o próximo que tem
fome, sede, o estrangeiro, nu, doente, encarcerado – disse “estrangeiro”: penso
que tantos estrangeiros que estão aqui na diocese de Roma: o que fazemos por
eles? – enquanto para a esquerda vão aqueles que não socorreram o próximo. Isto
nos diz que nós seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como o temos
amado nos nossos irmãos, especialmente os mais frágeis e necessitados. Certo,
devemos sempre ter bem presente que nós somos justificados, somos salvos pela
graça, por um ato de amor gratuito de Deus que sempre nos precede; sozinhos não
podemos fazer nada. A fé é, antes de tudo, um dom que nós recebemos. Mas para
dar frutos, a graça de Deus pede sempre a nossa abertura a Ele, a nossa
resposta livre e concreta. Cristo vem trazer-nos a misericórdia de Deus que
salva. A nós é pedido para nos confiarmos a Ele, para corresponder ao dom do
seu amor com uma vida boa, feita de ações animadas pela fé e pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, olhar para o juízo final não nos
cause medo; impulsione-nos para viver melhor o presente. Deus nos oferece com
misericórdia e paciência este tempo, a fim de que aprendamos, a cada dia, a
reconhecê-Lo nos pobres e nos pequenos, a fim de que nos comprometamos com o
bem e sejamos vigilantes na oração e no amor. O Senhor, ao término da nossa
existência e da história, possa reconhecer-nos como servos bons e fiéis.
Obrigado.
Fonte: Canção
Nova