Catequese do Papa Francisco

A Igreja, família de Deus

Queridos irmãos e irmãs, bom dia! 

Quarta-feira passada eu abordei o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Igreja. Hoje gostaria de começar algumas reflexões sobre o mistério da Igreja, mistério que todos nós vivemos e do qual fazemos parte. Quero utilizar expressões contidas nos textos do Concílio Vaticano II. 

Hoje, a primeira: a Igreja como Família de Deus. 

Nos últimos meses, mais de uma vez eu fiz referência à Parábola do Filho Pródigo, ou melhor, do Pai Misericordioso (cf. Lc 15:11-32). O filho mais novo deixa a casa do pai, desperdiça tudo e decide voltar porque percebe que cometeu um erro, mas já não é considerado digno de ser filho e pensa em poder ser recebido de volta como servo. Mas o pai corre ao seu encontro e o abraça, lhe restitui de volta sua dignidade de filho e faz festa. Esta parábola, como outras no Evangelho, mostra bem o desígnio de Deus para a humanidade. 

Qual é este plano de Deus? É fazer de todos nós uma única família de filhos, em que cada um se sinta próximo e amado por Ele, como na parábola do Evangelho, sinta o calor de ser família de Deus. Neste grande projeto, encontra sua raiz na Igreja, que não é uma organização fundada por pessoas, mas – como nos recordou tantas vezes o Papa Bento XVI – é obra de Deus, nasceu exatamente deste plano de amor que se concretiza progressivamente na história. A Igreja nasce do desejo de Deus de chamar todo homem à comunhão com Ele, à Sua amizade e a participar como filhos de sua vida divina. A própria palavra “Igreja”, do grego ekklesia, significa “convocação”: Deus nos chama, nos impulsiona a sair do individualismo, da tendência de nos fechar em nós mesmos e nos chama a fazer parte de sua família. E este chamado tem origem na própria criação. Deus nos criou para que vivêssemos em uma relação de profunda amizade com Ele e até mesmo quando o pecado quebrou esta relação com Deus, com os outros e com a criação, Deus não nos abandonou. Toda a história da salvação é a história de Deus que busca o homem, oferece-lhe seu amor, o acolhe. Ele chamou Abraão para ser o pai de uma multidão, escolheu o povo de Israel para firmar uma aliança que abraçasse todas as nações e enviou, na plenitude dos tempos, seu Filho, para que seu plano de amor e salvação fosse realizado em uma nova e eterna aliança com toda a humanidade. Quando lemos os Evangelhos, vemos que Jesus reúne em torno de si uma pequena comunidade que acolhe a sua palavra, segue-o, compartilha sua jornada, se torna Sua família e com esta comunidade Ele prepara e constrói Sua Igreja. 

Onde nasce a Igreja, então? Nasce do supremo ato de amor na Cruz, do lado trespassado de Jesus, de onde jorram sangue e água, símbolo dos sacramentos da Eucaristia e do Batismo. Na família de Deus, na Igreja, a seiva vital é o amor de Deus que se constitui em amá-Lo e amar os outros, todos, sem distinção e medida. A Igreja é uma família em que se ama e é amado. 

Quando se manifesta a Igreja? Celebramos esse momento há dois domingos. Se manifesta quando o dom do Espírito Santo enche o coração dos Apóstolos e os impele a sair e começar o caminho para anunciar o Evangelho, espalhar o amor de Deus. 

Mesmo hoje em dia, alguém diz: “Cristo sim, a Igreja não”. Como aqueles que dizem “eu acredito em Deus, mas não nos sacerdotes”. Mas é a Igreja que nos leva a Cristo, que nos leva a Deus, a Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Claro que há também aspectos humanos, naqueles que a compõem, pastores e fiéis, há defeitos, imperfeições, pecados e o Papa também os tem e são muitos, mas o belo é que, quando nos damos conta de que somos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, que sempre perdoa. Não se esqueça: Deus sempre perdoa e nos recebe em seu amor de perdão e misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas também uma oportunidade de humilhação para perceber que não há nada mais belo: a misericórdia de Deus. Pensemos nisso. 

Nos perguntemos hoje: quanto amo a Igreja? Rezo por ela? Eu me sinto parte da família da Igreja? O que faço para que seja uma comunidade onde todos se sintam acolhidos e compreendidos, sintam a misericórdia e o amor de Deus que renova a vida? A fé é um dom e um ato que nos afeta pessoalmente, mas Deus nos chama a viver a nossa fé juntos, como família, como Igreja. 

Peçamos ao Senhor, de maneira especial neste Ano da Fé, que as nossas comunidades, toda a Igreja, sejam cada vez mais verdadeiras famílias que vivem e levam o calor de Deus.

Seguir Jesus não é fazer carreira, disse o Papa Francisco

Missa na Casa Santa Marta

Segundo o Papa, o seguimento de Cristo não deve ser motivado por interesses pessoais ou materiais

Da redação, com Rádio Vaticano
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Seguir Jesus não é fazer carreira, disse o Papa Francisco durante Missa nesta terça-feira, 28. (FOTO: L’Osservatore Romano)

Nesta terça-feira, 28, em sua Missa diária celebrada na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que o seguimento e o anúncio de Jesus não significam fazer carreira. Segundo ele, seguir Jesus não confere maior poder, porque o Seu caminho é o da Cruz.

“O caminho do Senhor é o do rebaixamento, e esta é a razão pela qual sempre há dificuldades e perseguições”, comentou. Francisco advertiu que “quando um cristão não encontra dificuldades na vida – achando que tudo está indo bem, que tudo é lindo – significa que alguma coisa está errada”.

O Papa desenvolveu sua homilia partindo do comentário que Pedro faz a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Jesus responde que aqueles que O seguirem terão “muitas coisas boas”, mas sofrerão “perseguições”. Para Francisco, o seguimento de Jesus não deve ser motivado por interesses pessoais ou materiais.

“Quem acompanha Jesus como um ‘projeto cultural’, usa esta estrada para subir na vida, para ter mais poder. E a história da Igreja tem muito disso, começando por certos imperadores, governantes… e também alguns – não muitos, mas alguns – padres e bispos, não é? Alguns deles pensam que seguir Jesus é fazer carreira”.

O Papa lembrou que, tempos atrás, se dizia: “aquele menino quer fazer a carreira eclesiástica”; e, segundo ele, ainda hoje, muitos cristãos pensam que seguir Jesus é bom, porque se pode fazer carreira. “O cristão, porém, segue Jesus por amor”, afirmou o Pontífice.

Francisco explica que outra tendência do espírito ‘mundano’ é a de não tolerar o testemunho:

“Pensem em Madre Teresa: dizem que era uma bela mulher, que fez muito pelos outros, mas o espírito ‘mundano’ nunca disse que a Beata Teresa, todos os dias, por horas, fazia adoração… Costuma-se reduzir a atividade cristã ao bem social, como se a existência cristã fosse um verniz, uma pátina de Cristianismo. O anúncio não é uma pátina: vai aos ossos, ao coração, dentro de nós e nos transforma. Isso o espírito ‘mundano’ não tolera e aí acontecem as perseguições”.

Terminando, o Papa pediu à Igreja a graça de seguir Jesus no caminho que Ele ensinou, mesmo que o espírito ‘mundano’ a faça sofrer. “O Senhor nunca nos deixa sozinhos”, disse.


SOLENIDADE DE PENTECOSTES
SANTA MISSA COM OS MOVIMENTOS ECLESIAIS
HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO
Praça de São Pedro
Domingo, 19 de Maio de 2013
 Amados irmãos e irmãs
Neste dia, contemplamos e revivemos na liturgia a efusão do Espírito Santo realizada por Cristo ressuscitado sobre a sua Igreja; um evento de graça que encheu o Cenáculo de Jerusalém para se estender ao mundo inteiro.
Então que aconteceu naquele dia tão distante de nós e, ao mesmo tempo, tão perto que alcança o íntimo do nosso coração? São Lucas dá-nos a resposta na passagem dos Actos dos Apóstolosque ouvimos (2, 1-11). O evangelista leva-nos a Jerusalém, ao andar superior da casa onde se reuniram os Apóstolos. A primeira coisa que chama a nossa atenção é o rombo improviso que vem do céu, «comparável ao de forte rajada de vento», e enche a casa; depois, as «línguas à maneira de fogo» que se iam dividindo e pousavam sobre cada um dos Apóstolos. Rombo e línguas de fogo são sinais claros e concretos, que tocam os Apóstolos não só externamente mas também no seu íntimo: na mente e no coração. Em consequência, «todos ficaram cheios do Espírito Santo», que esparge seu dinamismo irresistível com efeitos surpreendentes: «começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem». Abre-se então diante de nós um cenário totalmente inesperado: acorre uma grande multidão e fica muito admirada, porque cada qual ouve os Apóstolos a falarem na própria língua. É uma coisa nova, experimentada por todos e que nunca tinha sucedido antes: «Ouvimo-los falar nas nossas línguas». E de que falam? «Das grandes obras de Deus».
À luz deste texto dos Actos, quereria reflectir sobre três palavras relacionadas com a acção do Espírito: novidade, harmonia e missão.
1. A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projectar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. E isto verifica-se também quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda a história da salvação, quando Deus Se revela traz novidade – Deus traz sempre novidade - , transforma e pede para confiar totalmente n’Ele: Noé construiu uma arca, no meio da zombaria dos demais, e salva-se; Abraão deixa a sua terra, tendo na mão apenas uma promessa; Moisés enfrenta o poder do Faraó e guia o povo para a liberdade; os Apóstolos, antes temerosos e trancados no Cenáculo, saem corajosamente para anunciar o Evangelho. Não se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tédio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz à nossa vida é verdadeiramente o que nos realiza, o que nos dá a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Perguntemo-nos hoje a nós mesmos: Permanecemos abertos às «surpresas de Deus»? Ou fechamo-nos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Mostramo-nos corajosos para seguir as novas estradas que a novidade de Deus nos oferece, ou pomo-nos à defesa fechando-nos em estruturas caducas que perderam a capacidade de acolhimento? Far-nos-á bem pormo-nos estas perguntas durante todo o dia.
2. Segundo pensamento: à primeira vista o Espírito Santo parece criar desordem na Igreja, porque traz a diversidade dos carismas, dos dons. Mas não; sob a sua acção, tudo isso é uma grande riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade, mas a recondução do todo à harmonia. Quem faz a harmonia na Igreja é o Espírito Santo. Um dos Padres da Igreja usa uma expressão de que gosto muito: o Espírito Santo «ipse harmonia est – Ele próprio é a harmonia». Só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Também aqui, quando somos nós a querer fazer a diversidade fechando-nos nos nossos particularismos, nos nossos exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a querer fazer a unidade segundo os nossos desígnios humanos, acabamos por trazer a uniformidade, a homogeneização. Se, pelo contrário, nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca dão origem ao conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunhão da Igreja. O caminhar juntos na Igreja, guiados pelos Pastores – que para isso têm um carisma e ministério especial – é sinal da acção do Espírito Santo; uma característica fundamental para cada cristão, cada comunidade, cada movimento é a eclesialidade. É a Igreja que me traz Cristo e me leva a Cristo; os caminhos paralelos são muito perigosos! Quando alguém se aventura ultrapassando (proagon) a doutrina e a Comunidade eclesial – diz o apóstolo João na sua Segunda Carta - e deixa de permanecer nelas, não está unido ao Deus de Jesus Cristo (cf. 2 Jo v. 9). Por isso perguntemo-nos: Estou aberto à harmonia do Espírito Santo, superando todo o exclusivismo? Deixo-me guiar por Ele, vivendo na Igreja e com a Igreja?
3. O último ponto. Diziam os teólogos antigos: a alma é uma espécie de barca à vela; o Espírito Santo é o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento são os dons do Espírito. Sem o seu incentivo, sem a sua graça, não vamos para a frente. O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão. O sucedido em Jerusalém, há quase dois mil anos, não é um facto distante de nós, mas um facto que nos alcança e se torna experiência viva em cada um de nós. O Pentecostes do Cenáculo de Jerusalém é o início, um início que se prolonga. O Espírito Santo é o dom por excelência de Cristo ressuscitado aos seus Apóstolos, mas Ele quer que chegue a todos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus diz: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 16). É o Espírito Paráclito, o «Consolador», que dá a coragem de levar o Evangelho pelas estradas do mundo! O Espírito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existência a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo. Perguntemo-nos, se tendemos a fechar-nos em nós mesmos, no nosso grupo, ou se deixamos que o Espírito Santo nos abra à missão. Recordemos hoje estas três palavras: novidade, harmonia, missão.
A liturgia de hoje é uma grande súplica, que a Igreja com Jesus eleva ao Pai, para que renove a efusão do Espírito Santo. Cada um de nós, cada grupo, cada movimento, na harmonia da Igreja, se dirija ao Pai pedindo este dom. Também hoje, como no dia do seu nascimento, a Igreja invoca juntamente com Maria: «Veni Sancte Spiritus… – Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor»! Amen.
 Fonte: Libreria Editrice Vaticana

Obediência é escuta que liberta


PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
 NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE


Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 15 de 14 de Abril de 2013
Deus não pode ser objecto de negociação. E a fé não prevê a possibilidade de sermos «tíbios», «nem maus nem bons», procurando com «uma vida dupla» chegar a um acordo num «status vivendi» com o mundo. O Papa Francisco disse-o na homilia da missa, celebrada na manhã de quinta-feira 11 de Abril, na capela da Domus Sanctae Marthae, na qual participaram a direcção e a redacção de «L’Osservatore Romano». Além dos jornalistas do diário estavam presentes também os das edições periódicas e alguns funcionários da direcção geral.
Entre os concelebrantes estava o cardeal indiano Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, o arcebispo Mario Aurelio Poli, sucessor de Bergoglio no governo da arquidiocese de Buenos Aires, pe. Indunil Janakaratne Kodithuwakku Kankanamalage, subsecretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, monsenhor Robinson Edward Wijesinghe, chefe de departamento do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, pe. Sergio Pellini, director-geral da Tipografia Vaticana Editrice L’Osservatore Romano, os jesuítas Władisław Gryzło, encarregado da edição mensal em língua polaca do nosso jornal, e Konrad Grech, e o franciscano conventual Giuseppe Samid. Estavam também presentes o presidente e o secretário-geral da Fundação «Centesimus Annus Pro Pontifice», Domingo Sugranyes Bickel e Massimo Gattamelata.
Nas leituras, explicou o Papa na homilia, «aparece três vezes a palavra “obedecer”: fala-se da obediência. A primeira vez, quando Pedro responde “é preciso obedecer a Deus e não aos homens”» diante do sinédrio, como referem os Actos dos Apóstolos (5, 27-33).
O que significa — questionou-se o Pontífice — «obedecer a Deus? Significa que devemos ser como escravos, todos amarrados? Não, porque exactamente quem obedece a Deus é livre, não é escravo! E como se faz? Obedeço, não faço a minha vontade e sou livre? Parece uma contradição. Mas não é uma contradição». De facto «obedecer vem do latim e significa escutar, ouvir o outro. Obedecer a Deus é escutá-Lo, ter o coração aberto para ir pela senda que Deus nos indica. A obediência a Deus é escutar Deus. E isto torna-nos livres».
Comentando o trecho dos Actos dos Apóstolos, o Pontífice recordou que Pedro «diante destes escribas, sacerdotes e também do sumo sacerdote, dos fariseus» foi chamado a «tomar uma decisão». Pedro «ouvia o que os fariseus e os sacerdotes diziam, e ouvia o que Jesus dizia no seu coração: “o que faço?”. Disse: “Faço o que me diz Jesus, e não o que quereis que eu faça”. E assim foi em frente».
«Na nossa vida — disse o Papa Francisco — ouvimos também certas propostas que não vêm de Jesus, nem de Deus. Pode-se entender: as nossas debilidades às vezes levam-nos por este caminho. Ou também por outro que é ainda mais perigoso: estabelecemos um acordo, um pouco de Deus e um pouco de vós. Fazemos um acordo e assim continuamos com uma dupla vida: um pouco a vida daquilo que ouvimos de Jesus e um pouco a vida do que escutamos do mundo, os poderes do mundo e muito mais». Mas não é um «bom» sistema. De facto «no livro do Apocalipse, o Senhor diz: isto não é bom, porque assim não sois maus nem bons: sois tíbios. Condeno-vos».
O Pontífice advertiu exactamente contra esta tentação: «Se Pedro tivesse dito aos sacerdotes: “falemos como amigos e estabeleçamos um status vivendi”, talvez tivesse corrido bem». Mas não teria sido uma escolha própria «do amor que vem quando ouvimos Jesus». Uma escolha que tem consequências. «O que acontece — prosseguiu o Santo Padre — quando escutamos Jesus? Às vezes os que nos fazem outra proposta enraivecem-se e a estrada acaba na perseguição. Neste momento, disse, temos muitas irmãs e irmãos que para obedecer, ouvir, escutar o que Jesus lhes pede estão sob perseguição. Recordemos sempre estes irmãos e irmãs que puseram a carne ao fogo e nos dizem com a própria vida: “Quero obedecer, ir pelo caminho que Jesus me indica”».
Com a liturgia hodierna «a Igreja convida-nos» a «ir pela senda de Jesus» e a «não ouvir as propostas que o mundo nos faz, propostas de pecado ou tíbias, a meias»: trata-se, reafirmou, de um modo de viver que «não é bom» e «não nos fará felizes».
Nesta escolha de obediência a Deus e não ao mundo, sem ceder a acordos, o cristão não está sozinho. «Onde encontramos — perguntou-se o Papa — a ajuda para ir pela estrada do ouvir Jesus? No Espírito Santo. Somos testemunhas desses factos: foi o Espírito Santo que Deus doou aos que o obedecem». Portanto, disse, «é precisamente o Espírito Santo dentro de nós que nos dá força para continuar». O Evangelho de João (3, 31-36), proclamado na celebração, com uma bonita expressão, garante: «“Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus: Ele dá o Espírito incomensuravelmente”. O nosso Pai dá-nos o Espírito, sem medidas, para escutar Jesus, ouvir Jesus e ir pela senda de Jesus».
O Papa Francisco concluiu a homilia com o convite a sermos corajosos nas diversas situações da vida: «Peçamos a graça da coragem. Teremos sempre pecados: somos todos pecadores». Mas serve «a coragem de dizer: “Senhor, sou pecador, às vezes obedeço às coisas mundanas mas quero obedecer a ti, quero caminhar pela tua vereda”. Peçamos esta graça, de ir sempre pela estrada de Jesus. E quando não o fizermos, peçamos perdão.

Fonte: L'Osservatore Romano

Mensagem do Papa na festa da Ascensão do Senhor

09-05-2013

“Um dom precioso que o Espírito Santo traz aos nossos corações é a profunda confiança no amor e na misericórdia de Deus”. Essa é a mensagem do Papa Francisco para a Festa da Ascensão do Senhor, celebrada hoje, 9 de maio, feriado no Vaticano. A frase foi replicada no twitter oficial da Santa Sé @Pontifex_pt.

Com a Ascenção, Jesus termina o seu itinerário terreno e dá início à sua condição gloriosa à direita do Pai, onde sua obra de salvação é reconhecida, seu sacrifício é acolhido, sua oração se torna intercessão universal, sua presença se torna eficaz em todo e qualquer espaço e o seu poder se difunde em todas as situações, “no céu e na terra”, como narra São Mateus.

Pode-se ter a impressão de que Jesus se afasta, de que os apóstolos já não o voltarão a ver. Na realidade, a Ascenção O torna mais próximo e no meio deles, e eles passarão a senti-lo próximo e já não no seio dos limitados e privilegiados confins dos seus breves dias e lugares: a humanidade gloriosa do Senhor passa a estar contemporaneamente por todo o lado e em cada um; uma contemporaneidade que ultrapassa qualquer tipo de objeção e de resistência.

São Bernardo dizia: ascendendo ao céu, “Jesus deixou em nós a semente da confiança e da espera, criou a esperança nos crentes”. É precisamente com esta presença do Senhor que os discípulos realizam a sua missão, que anunciam o Evangelho, a fim de que seja acolhido na fé e a salvação se concretize – escreve o teólogo italiano Inos Biffi. 

Fonte: Comunidade Shalom